sábado, 14 de abril de 2012

PORTINARI GUERRA E PAZ





  A Mão

"Entre o cafezal e o sonho
A mão está sempre compondo
O garoto pinta uma estrela dourada
Na parede da capela,
E nada mais resiste à mão pintora.
A mão cresce e pinta o que não é para ser pintado, mas sofrido.
A mão está sempre compondo
módul-murmurando
o que escapou à fadiga da Criação
e revê ensaios de formas
e corrige o oblíquo pelo aéreo
e semeia margaridinhas de bem-querer no baú dos vencidos.
A mão cresce mais e faz
do mundo como-se-repete o mundo que telequeremos.
A mão sabe a cor da cor
e com ela veste o nu e o invisível.
Tudo tem explicação por que tudo tem (nova) cor.
Tudo existe por que foi pintado à feição de laranja mágica,
não para aplacar a sede dos companheiros,
principalmente para aguçá-la
até o limite do sentimento domicílio do homem.
Entre o sonho e o cafezal
entre guerra e paz
entre mártires, ofendidos,
músicos, jangadas, pandorgas,
entre os roceiros mecanizados de Israel,
a memória de Giotto e o aroma primeiro do Brasil
entre o amor e o ofício
eis que a mão decide;
todos os meninos, ainda os mais desgraçados,
sejam vertiginosamente felizes
como feliz é o retrato
múltiplo verde-róseo em duas gerações
da criança que balança como flor no cosmo
e torna humilde, serviçal e doméstica a mão excedente
em seu poder de encantação.
Agora há uma verdade sem angústia
mesmo no estar-angustiado.
O que era dor é flor, conhecimento
plástico do mundo.
E por assim haver disposto o essencial,
deixando o resto aos doutores de Bizâncio,
bruscamente se cala
e voa para nunca-mais
a mão infinita
a mão-de-olhos-azuis de Candido Portinari."

(Carlos Drummond de Andrade)


Eu fui! Fui tomada pela emoção de estar entre os painéis Guerra e Paz de Portinari! E soube o que é me emocionar com a beleza, sentida até as lágrimas. 

Se não bastasse a beleza da arte, existe a beleza da história.  Portinari viveu 59 anos e pintou o Brasil com todos os seus nuances sociais, culturais e lúdicos. “Quando comecei a pintar, senti que devia fazer minha gente (...) Depois desviaram-me e comecei a tatear e a pintar tudo de cor”.

Quando já estava doente, envenenado pelas tintas da época, foi convidado pelo governo brasileiro a pintar Guerra e Paz. Recomendado a não fazer o trabalho, preferiu desafiar a doença a não pintar mais "Estão me impedindo de viver".

Levou 4 anos para concluir os magníficos painéis, presente do Brasil a ONU. Depois de prontos, foram expostos, por poucos dias, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e levados a sede da ONU. Entregues  em solenidade, por motivações políticas, sem a presença do artista, .

Em 2010 o filho de Portinari, João Cândido Portinari e a Fundação Portinari, travaram uma batalha para trazer  a obra para apreciação dos brasileiros.Venceram! Até o dia 21 de abril estarão expostos no Memorial da América Latina, em São Paulo, numa magnífica exposição que não é composta apenas dos painéis, mas uma coletânea maravilhosa da obra do mestre, entremeada de história, videos, música e poesia! Meus agradecimentos a João Cândido por ter nos proporcionado momentos inesquecíveis.


GUERRA






PAZ







O MESTRE





EMOÇÃO



 Na biblioteca toda a obra de Portinari deslizando diante de nós





Quem puder,  vá até la! A EMOÇÃO RECOMENDA!


Visitem o link para saber mais:




A Guerra e a Paz de Portinari
“A guerra é uma cavalgada
cruzando o azul da paisagem
cortejo de fome e de morte
ferindo o coração dos homens.
A mulher velando o filho morto
a mulher e a criança chorando
a mãe e a filha em desespero
de cabeças rolando na grama.
A guerra são os quatro cavalos
regendo a sinfonia de dores
são os braços erguidos em prece
pedindo o final dos horrores.
A paz é um coro de meninos
é a voz eterna da infância
as mulheres dançando na roça
os meninos pulando carniça.
É a noiva de branco sorrindo
na garupa de um cavalo branco
a mulher carrega um carneiro
crianças no espaço balançam.
A paz está nos meninos
que brincam nos campos da infância
nos homens, nas mulheres cantando
a harmonia, a esperança.”
Fernando Brant, musicada por Milton Nascimento

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